sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Se eu tivesse voz para falar à igreja evangélica nessas eleições de 2018..



Antes de tudo eu reconheceria quem sou: alguém que perdeu a oportunidade de ser tido como sábio, dada as circunstâncias que vivemos (Pv 17:28).

Mas aproveitaria para, também, dizer algumas palavras.
 
E começaria emprestando a sabedoria de um dos mais influentes escritores de nossos dias, Tim Keller:

"(os cristãos) não podem odiar os inimigos ou justificar oprimir as pessoas que eles acham que são opressores." (Making Sense of God: An Invitation to the Sceptical, p. 210)

 Tivemos um grande período de um partido no poder. Penso que todos podemos dizer que foi um bom momento na economia. Segundo alguns, consequência não da capacidade desse partido mas, sim, de uma conjuntura internacional favorável. Outros, discordam. Independente disso, o tempo no poder desse partido chegou ao fim com uma quantidade enorme de corrupção trazida à tona pela operação Lava Jato. Alguns tentam desqualificar as ações, mas o fato é que está lá. Esse partido, o PT, errou. Para alguns os fins justificam os meios. Para conseguir dar melhores condições de vida ao menos favorecido em um sistema político extremamente perverso e ganancioso, o partido precisou jogar o jogo que todos jogaram. Para mim, não. Os fins não podem justificar os meios. Votei no PT pensando que teríamos uma mudança de valores, afinal, era o trabalhador chegando ao poder. Talvez eu pudesse dizer que fui enganado, mas hoje chego à conclusão que fui apenas inocente.

Ainda, esse mesmo partido cometeu, a meu ver, um outro erro. Na tentativa de proteger a vida dos homossexuais, que têm, historicamente, sofrido uma profunda discriminação, trouxe um grupo de seus representantes para buscar uma forma de orientar professores quanto à esse problema. Aqui, talvez, mais uma vez, esteja sendo inocente. Alguns vão afirmar que o que eles queriam era realmente liberar geral e expor nossas crianças à essa política de identidade de gênero que tanto nos choca. Mas não vejo assim. Penso que o erro foi não ter chamado as diversas representações sociais para discutir a proposta antes da criação dos tão criticados vídeos. E, assim, ficamos, aqueles que têm uma visão tradicional da teologia bíblica, chocados. A resistência foi geral, e, até onde eu sei, o projeto como um todo não foi colocado em prática.

Ou seja, a resistência da sociedade impediu que a proposta fosse implementada. Não que não esteja tudo pronto para tal. Mas não foi implementada. Uma democracia funciona assim: a representação da sociedade. em suas diversas forças no congresso, aprova ou rejeita propostas.

Mas, então, nasceu um outro lado na história.

O lado de uma resistência, ou, quem sabe, de profunda força opressora, contra "tudo o que está aí". É claro que eu entendo os motivos. Eu não gostaria de ver de novo no poder o partido que me enganou. Não gostaria de ver de volta o partido que loteou cargos públicos com gente despreparada para ocupar os espaços que passaram a ocupar. Não gostaria de ver de volta na diretoria da Petrobras novos indicados desse partido. Mas o pior de tudo para mim: não gostaria de ver novamente no poder o partido que não fez uma revisão de tudo o que aconteceu, reconhecendo os erros e buscando mecanismos para que eles não se repitam.

Mas não posso, com esse desejo, apoiar o extremo oposto dessa balança. E, pior para mim: extremo oposto que se intitula cristão. E o faz ao mesmo tempo que diz que o problema da ditadura foi que torturou muito e matou pouco, que a resposta para violência é mais violência ainda, que mãe e avó criam desajustados, que 13o salário é "jabuticaba" e precisa acabar, que vai taxar em 20% os que hoje são isentos de IR e que vai vender todas as empresas públicas, inclusive as estratégicas para o país.

Eu tenho poucas dúvidas que na época da ditadura havia gente ruim de todos os lados. Vi entrevista de alguém que descreveu como assassinou uma pessoa importante na ditadura. Mas nem por isso posso defender que a tortura, ou até mesmo a morte, são o caminho correto. Da mesma forma, não posso conviver com a violência na qual estou inserido todos os dias na cidade do Rio de Janeiro, com a maldade dos bandidos armados de fuzil, e achar que tudo se resolve de uma maneira educada. Sim, vai haver violência do Estado para conter essa violência da marginalidade. Mas daí não posso afirmar que esse é o único caminho e que não há profundos fundamentos sociais no nascedouro da marginalidade nos guetos da miséria ao meu redor. Mesmos fundamentos, talvez, para as famílias de mães abandonadas pelos maridos e que precisam criar filhos sozinhas, trabalhando de sol a sol, em empregos a horas de distância de suas casas. Sim, vai haver dificuldades nessa criação, mas daí posso afirmar que todos serão desajustados?

Da mesma forma imagino que empreender em nosso país é um desafio. Há muita carga tributária envolvida. Mas quando se pensa em cortar a gente olha logo para o lado mais fraco, o trabalhador? Essa mesma mãe que sai 5 horas da manhã, retorna ás 20h da noite, que já é cobrada pela criação dos filhos, vai ser a que vai pagar a conta para um ambiente mais propício ao empreendedorismo? Isso aí é um valor cristão? Diminuir a alíquota do IR de quem ganha mais para taxar quem ganha menos deve ter algum fundamento econômico que eu desconheço, mas independente disso me soa tão cruel quanto tirar o 13o salário daquela mãe. E claro que eu sei que há muito funcionário público que não faz nada e a gente precisa resolver isso, porque não há como a sociedade pagar por tanta incompetência. Mas ao mesmo tempo vender empresas estratégicas para a soberania nacional?

Não, esse caminho não posso, não consigo trilhar. Há que se caminhar em uma 3a via.

Sei que há um anseio muito grande em nosso "arraial" para impedir que nossas crianças sejam expostas a uma doutrinação LGBT. Eu compartilho muito desse anseio. Mas me preocupo quando tentamos uma via estatal para algo que deveria ser trabalhada pela via "eclesiástica". Explico: O homossexualismo não é um pecado aos olhos do mundo. Ponto. Precisamos entender isso. E, penso, é uma das maiores dificuldades para a igreja em nossos dias, porque é um pecado cometido apenas contra Deus, em nossa visão cristã de mundo. Não é cometido contra outro ser humano. Assassinato, adultério, roubo, tudo isso tem algum elemento social envolvido e foram, de alguma forma, encampados em nosso "contrato social". Mas o homossexualismo, sem o elemento "Deus" envolvido, não é um pecado para a sociedade. E vai continuar não sendo, independente de um presidente que queira lutar contra a sua influência entre nós. Essa semana a Globo colocou no ar o primeiro beijo entre homens na "novela da tarde", Malhação. A gente acha que isso é menos influente do que o kit gay? E acha que a Globo vai parar de tratar o tema dessa forma se o Bolsonaro for eleito? A via, pra mim, é a igreja e a semeadura do reino de Deus e Sua justiça. Isso vai nos "proteger". Isso vai proteger nossas crianças.

Há muito mais a ser dito. Mas não não tenho espaço nesse texto para continuar.

Assim, se eu tivesse voz para falar à igreja evangélica nas eleições de 2018 eu diria o seguinte: do PT, do mundo, eu espero exatamente o "kit gay", a corrupção, as fake news e tudo o mais que uma sociedade sem Deus pode gerar. O Senhor me disse que seria assim. Mas de um cristão eu não espero que se torne divulgador de fake news, opressor, violento, contra o pobre e o excluído. Acho que a história já nos mostrou o que pode acontecer quando o cristianismo se torna a "religião do estado", e tenho muito medo de estarmos caminhando a passos largos para ver a história se repetir.

Precisamos buscar uma terceira via.

2 comentários:

Unknown disse...

Excelente texto! Parabéns!!!

Simone disse...

Posição equilibrada e bem fundamentada! Eduardo, parabéns!