Antes
de tudo eu reconheceria quem sou: alguém que perdeu a oportunidade de ser tido como sábio, dada as circunstâncias
que vivemos (Pv 17:28).
Mas
aproveitaria para, também, dizer algumas palavras.
E começaria
emprestando a sabedoria de um dos mais influentes escritores de nossos
dias, Tim Keller:
"(os cristãos) não podem odiar os inimigos ou justificar oprimir as pessoas que eles acham que são opressores." (Making Sense of God: An Invitation to the Sceptical, p. 210)
Tivemos
um grande período de um partido no poder. Penso que todos podemos dizer
que foi um bom momento na economia. Segundo alguns, consequência não da
capacidade desse partido mas, sim, de uma conjuntura internacional
favorável. Outros, discordam. Independente disso, o tempo no poder desse
partido chegou ao fim com uma quantidade enorme de corrupção trazida à
tona pela operação Lava Jato. Alguns tentam desqualificar as ações, mas o
fato é que está lá. Esse partido, o PT, errou. Para alguns os fins
justificam os meios. Para conseguir dar melhores condições de vida ao
menos favorecido em um sistema político extremamente perverso e
ganancioso, o partido precisou jogar o jogo que todos jogaram. Para mim,
não. Os fins não podem justificar os meios. Votei no PT pensando que
teríamos uma mudança de valores, afinal, era o trabalhador chegando ao
poder. Talvez eu pudesse dizer que fui enganado, mas hoje chego à
conclusão que fui apenas inocente.
Ainda,
esse mesmo partido cometeu, a meu ver, um outro erro. Na tentativa de
proteger a vida dos homossexuais, que têm, historicamente, sofrido uma
profunda discriminação, trouxe um grupo de seus representantes para
buscar uma forma de orientar professores quanto à esse problema. Aqui,
talvez, mais uma vez, esteja sendo inocente. Alguns vão afirmar que o
que eles queriam era realmente liberar geral e expor nossas crianças à
essa política de identidade de gênero que tanto nos choca. Mas não vejo
assim. Penso que o erro foi não ter chamado as diversas representações
sociais para discutir a proposta antes da criação dos tão criticados
vídeos. E, assim, ficamos, aqueles que têm uma visão tradicional da
teologia bíblica, chocados. A resistência foi geral, e, até onde eu sei,
o projeto como um todo não foi colocado em prática.
Ou
seja, a resistência da sociedade impediu que a proposta fosse
implementada. Não que não esteja tudo pronto para tal. Mas não foi
implementada. Uma democracia funciona assim: a representação da
sociedade. em suas diversas forças no congresso, aprova ou rejeita
propostas.
Mas, então, nasceu um outro lado na história.
O
lado de uma resistência, ou, quem sabe, de profunda força opressora,
contra "tudo o que está aí". É claro que eu entendo os motivos. Eu não
gostaria de ver de novo no poder o partido que me enganou. Não gostaria
de ver de volta o partido que loteou cargos públicos com gente
despreparada para ocupar os espaços que passaram a ocupar. Não gostaria
de ver de volta na diretoria da Petrobras novos indicados desse partido.
Mas o pior de tudo para mim: não gostaria de ver novamente no poder o
partido que não fez uma revisão de tudo o que aconteceu, reconhecendo os
erros e buscando mecanismos para que eles não se repitam.
Mas
não posso, com esse desejo, apoiar o extremo oposto dessa balança. E,
pior para mim: extremo oposto que se intitula cristão. E o faz ao mesmo
tempo que diz que o problema da ditadura foi que torturou muito e matou
pouco, que a resposta para violência é mais violência ainda, que mãe e
avó criam desajustados, que 13o salário é "jabuticaba" e precisa acabar,
que vai taxar em 20% os que hoje são isentos de IR e que vai vender
todas as empresas públicas, inclusive as estratégicas para o país.
Eu
tenho poucas dúvidas que na época da ditadura havia gente ruim de todos
os lados. Vi entrevista de alguém que descreveu como assassinou uma
pessoa importante na ditadura. Mas nem por isso posso defender que a
tortura, ou até mesmo a morte, são o caminho correto. Da mesma forma,
não posso conviver com a violência na qual estou inserido todos os dias
na cidade do Rio de Janeiro, com a maldade dos bandidos armados de
fuzil, e achar que tudo se resolve de uma maneira educada. Sim, vai
haver violência do Estado para conter essa violência da marginalidade.
Mas daí não posso afirmar que esse é o único caminho e que não há
profundos fundamentos sociais no nascedouro da marginalidade nos guetos
da miséria ao meu redor. Mesmos fundamentos, talvez, para as famílias de
mães abandonadas pelos maridos e que precisam criar filhos sozinhas,
trabalhando de sol a sol, em empregos a horas de distância de suas
casas. Sim, vai haver dificuldades nessa criação, mas daí posso afirmar
que todos serão desajustados?
Da
mesma forma imagino que empreender em nosso país é um desafio. Há muita
carga tributária envolvida. Mas quando se pensa em cortar a gente olha
logo para o lado mais fraco, o trabalhador? Essa mesma mãe que sai 5
horas da manhã, retorna ás 20h da noite, que já é cobrada pela criação
dos filhos, vai ser a que vai pagar a conta para um ambiente mais
propício ao empreendedorismo? Isso aí é um valor cristão? Diminuir a
alíquota do IR de quem ganha mais para taxar quem ganha menos deve ter
algum fundamento econômico que eu desconheço, mas independente disso me
soa tão cruel quanto tirar o 13o salário daquela mãe. E claro que eu sei
que há muito funcionário público que não faz nada e a gente precisa
resolver isso, porque não há como a sociedade pagar por tanta
incompetência. Mas ao mesmo tempo vender empresas estratégicas para a
soberania nacional?
Não, esse caminho não posso, não consigo trilhar. Há que se caminhar em uma 3a via.
Sei
que há um anseio muito grande em nosso "arraial" para impedir que
nossas crianças sejam expostas a uma doutrinação LGBT. Eu compartilho
muito desse anseio. Mas me preocupo quando tentamos uma via estatal para
algo que deveria ser trabalhada pela via "eclesiástica". Explico: O
homossexualismo não é um pecado aos olhos do mundo. Ponto. Precisamos
entender isso. E, penso, é uma das maiores dificuldades para a igreja em
nossos dias, porque é um pecado cometido apenas contra Deus, em nossa
visão cristã de mundo. Não é cometido contra outro ser humano.
Assassinato, adultério, roubo, tudo isso tem algum elemento social
envolvido e foram, de alguma forma, encampados em nosso "contrato
social". Mas o homossexualismo, sem o elemento "Deus" envolvido, não é
um pecado para a sociedade. E vai continuar não sendo, independente de
um presidente que queira lutar contra a sua influência entre nós. Essa
semana a Globo colocou no ar o primeiro beijo entre homens na "novela da
tarde", Malhação. A gente acha que isso é menos influente do que o kit
gay? E acha que a Globo vai parar de tratar o tema dessa forma se o
Bolsonaro for eleito? A via, pra mim, é a igreja e a semeadura do reino de Deus e Sua justiça. Isso vai nos "proteger". Isso vai proteger nossas crianças.
Há muito mais a ser dito. Mas não não tenho espaço nesse texto para continuar.
Assim,
se eu tivesse voz para falar à igreja evangélica nas eleições de 2018 eu diria o seguinte:
do PT, do mundo, eu espero exatamente o "kit gay", a corrupção, as fake
news e tudo o mais que uma sociedade sem Deus pode gerar. O Senhor me
disse que seria assim. Mas de um cristão eu não espero que se torne
divulgador de fake news, opressor, violento, contra o pobre e o
excluído. Acho que a história já nos mostrou o que pode acontecer quando
o cristianismo se torna a "religião do estado", e tenho muito medo de estarmos caminhando a passos largos para ver a história se repetir.
Precisamos buscar uma terceira via.
2 comentários:
Excelente texto! Parabéns!!!
Posição equilibrada e bem fundamentada! Eduardo, parabéns!
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