Confesso que sou fã dos filmes de ficção, onde somos levados a mundos completamente distintos do nosso. Não gosto muito de filmes que retratam a realidade. Para mim, cinema é momento de desconexão com o dia a dia, onde posso deixar a mente solta, a vagar pelos cenários que os diretores nos proporcionam. Por isso amei “Senhor dos Anéis”, “As crônicas de Nárnia”, “Guerra nas Estrelas”. É uma questão de gosto. Não há nenhum tipo de julgamento crítico do que é melhor e do que é pior.
Apenas gosto.
Os filmes citados, têm em comum a capacidade de soltar nossa imaginação. Quando criança, após ver um desses filmes, ficávamos dias, semanas, recriando e expandindo tais mundos em nossas brincadeiras. Quem de minha geração nunca se imaginou como o Superman, voando para salvar a humanidade? Na verdade, para salvar aquela meninha por quem éramos apaixonados!
Em nosso mundo racionalista, matemático e científico, a imaginação perdeu um pouco de espaço. Fica restrita à criança. Me parece que nem mesmo nossos adolescentes colocam as imagens em ação, permitindo a imaginação levá-los a diversos lugares. Certamente, fruto de uma geração que lê muito pouco ou quase nada.
Em seu prefácio ao livro “Trovão Inverso: O livro do apocalipse e a oração imaginativa”, o pastor Ricardo Barbosa diz:
A contribuição da cultura moderna para o estudo e a análise racional e sistemática de um texto foi fundamental para a igreja se libertar da tirania do obscurantismo da Idade Média. As ferramentas exegéticas e hermenêuticas ajudaram os cristãos a interpretar as Sagradas Escrituras e a compreenderem o que seus escritores realmente queriam dizer. Contudo, a consciência racional e científica moderna criou uma forma de atrofia para a imaginação e, consequentemente, uma compreensão limitada para a revelação bíblica”
O autor do livro, pastor Eugene Peterson, diz à frente:
Leio Apocalipse não para obter mais conhecimento, mas para reavivar minha imaginação.
Avivando nossa imaginação - Inventando uma história
Quero lhes pedir permissão para exercitar junto com vocês minha imaginação. Me permitam contar a história rápida, daquilo que imagino de um dos textos que mais me impactaram – mesmo antes de minha conversão – na Palavra do Senhor:
Ao anjo da igreja de Laodicéia escreva: “Estas são as palavras do Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o soberano da criação de Deus. Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, não é frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca.
Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo (Ap 3:14-22)
Enquanto conto essa história muitas coisas pessoais vão aparecer. Não me preocupo com isso. Podem ser coisas parecidas ou não com as suas, mas é aquilo que gostaria de falar.
Caminhe comigo e imagine a seu próprio momento nesse texto.
A minha ceia com Ele.
É tardinha.
O sol vai se pondo.
Estou em uma casa de campo. Sempre penso nesse encontro ocorrendo em uma casa de campo, rústica, quase como uma fazenda ou sítio. Estou sentado em uma sala, lendo algum livro, quando alguém bate à porta e chama meu nome.
Me levanto para atender. Completamente eufórico e assustado, coração batendo na ponta do nariz, vejo meu Senhor parado na entrada, sorrindo para mim e perguntando se podemos comer juntos.
Me lembro de quando era criança. Meus avós maternos moravam em iguaba gande, para onde minha família ia todo fim de semana. Era um lugar rural naquela época – já se vão 30 anos!. Nesse tempo, era comum que o programa “Fantástico”, da rede globo, exibisse noticias sensacionalistas. Histórias de lobisomens eram comuns! E, era sempre em Iguaba - deserta àquela época - que eu assistia as reportagens.
Confesso que sempre que alguma reportagem sobre Jesus era exibida, me vinha um medo de encontrá-lo.
Agora, com Ele à porta, me lembro desse medo. Mas percebo que se tornou uma reverência profunda por aquele homem-Deus parado na porta.
Sem saber se choro, rio, canto ou me ajoelho, digo balbuciando que sim, Ele pode entrar.
Como Marta, fico logo ansioso, preocupado com o que irei oferecer ao Rei dos Reis. Não tenho nada à altura. Mas ele traz um pacote, de onde tira o pão mais maravilhoso com já pude ver e sentir o aroma, bem como uma garrafa do melhor vinho que já existiu. Me lembro do texto da ceia, (Mat 26:29) Mas digo-vos que desde agora não mais beberei deste fruto da videira até aquele dia em que convosco o beba novo, no reino de meu Pai.
Hoje, ele irá beber comigo.
Como filho de meu tempo, minha imagem física de Jesus é que foi criada na arte da Idade Média: Um homem forte, de cabelos longos e barba. É assim que o vejo nesse jantar.
Pego duas taças de vinho e pratos para comermos o pão. Nos sentamos à mesa. Seu olhar vai muito além do que palavras podem descrever. Uma firmeza assustadora de propósito. Ao mesmo tempo, uma ternura que só vi parecida nos olhos de meus pais.
O que digo nessa hora? Há algo a dizer? Certamente, milhares de perguntas:
- Por que tanto sofrimento, seu e nosso? Por que nem todos serão salvos? Por que tantas guerras? Por que tanta violência nas cidades? Por que tanta ganância das autoridades? Por que tantos pobres e miseráveis, tanta doença?
Certamente sua resposta seria fundamentada no pecado. Eu sei disso. Por isso, perguntas não têm lugar nessa conversa.
Eu só quero dizer três coisas:
1 – Me perdoa, Senhor!
Não tanto pelos pecados que cometi antes de Te conhecer. Eu era cego, surdo e mudo, morto para uma vida contigo.
Peço perdão para o que mais me dói. Pelos pecados que continuei a cometer mesmo depois de conhecer. Me envergonho demais disso!
Perdão porque muitas e muitas vezes minhas prioridades foram egoístas. Só pensei em mim. Não pensei em minha família, minhas enteadas, filha e esposa. Elas ficaram atrás de minhas prioridades. Meus pais, irmãs, avós, tios... Todos estiveram muitas vezes abaixo das prioridades que elegi para mim: Um bom emprego, dinheiro para uma vida mais segura e confortável, status, e reconhecimento de amigos e pessoas de destaque.
Um grande amigo adoeceu e morreu, e só o vi à beira da morte, porque não tive a prioridade certa! Nossa vida seguiu, correria para os dois, e não nos vimos nem nos falamos mais por telefone. Eu sabia que ele estava doente, mas não dei a devida atenção.
Até que era tarde demais.
Mesmo o Senhor não foi minha prioridade todos os dias de minha vida!
Perdoa Senhor, porque não percebi a necessidade de gente que estava bem próxima a mim. Agi muitas e muitas vezes como o sacerdote e o levita daquela parábola que o Senhor contou. Usei aquilo que o Senhor me deu: saúde, dinheiro e tempo, para outras coisas, enquanto à minha volta muitos estavam com fome, sem condições mínimas para uma vida humana aceitável.
Comprei carros caros, quando podia ter comprado carros mais baratos. Poderia ter usado, como bom mordomo, o restante do dinheiro para ajudar meu irmão. Roupas e acessórios foram mais importantes que pão e leite na mesa das pessoas.
Me perdoa porque tive muita dificuldade em perdoar. Muita mesmo. Não percebi, nos momentos em que fui alvo do pecado dos meus irmãos, o quanto o Senhor já havia me perdoado, e continuava a me perdoar. Minha honra, ou seja lá o que for, foi mais importante do que obedecer ao Senhor e perdoar, assim como fui e era perdoado.
Senhor como isso era e é difícil para mim. Acho que no fim das contas, continuava achando que eu era a coisa mais importante do mundo, o centro de tudo. Assim, se fosse magoado de alguma forma, isso era quase que uma afronta ao maior ser humano de todos. Quanto arrogância!
Me perdoa, enfim, Senhor, porque o Senhor não foi, na maioria das vezes, o centro do meu universo.
Por isso, todos os outros pecados.
Mesmo quando eu ia à igreja, estava no meio da comunidade, muitas e muitas vezes o que me levou lá não foi a adoração genuína ao Senhor, mas a tentativa de parecer santo o suficiente para ser um deles. Meu coração não esteve sempre encharcado de temor, adoração e reverência, como está agora aqui junto contigo.
Vezes sem fim, achei tudo muito igual, chato, sem perceber que o maior motivo de estar vivo era glorificar o Seu Nome e me alegrar dias após dia no Senhor. Mesmo que todos os meus dias fossem iguais, seriam, se tivesse percebido isso mais claramente, diferentes. Todos os dias haveria algo de novo do Senhor para minha vida e essa expectativa me permitiria viver muito melhor.
Posso, então, ouvir sua voz, gentil e poderosa, a dizer a mesma coisa que disse ao paralítico descido pelo telhado (Mc 2:5): Filho, perdoados são os teus pecados.
Eu apenas choro.
Comemos um pedaço de pão e tomamos um gole do vinho. Eu continuo:
2 – Obrigado, Senhor, por sua Graça.
Mesmo com todos esses pecados, anteriores e posteriores a ter te reconhecido como Senhor e Salvador da minha vida, o Senhor me amou e continuou me dando novas oportunidades.
Sua graça me permitiu ter uma boa família, pais, irmãs, esposa, enteadas e filha. Os mesmos que não priorizei, apesar de meus erros. Gente bonita, companheira.
Sua Graça me permitiu estudar. Fui além dos meus pais na formação que tive, pela bondade do Senhor através da vida deles. Sim, porque eles lutaram. E isso me permitiu ter um bom emprego. Entretanto, nada disso valeria algo se o Senhor não me desse saúde para trabalhar, de forma que eu pudesse ter até mais do que o pão de cada dia.
Sua graça me livrou de coisas que vi com meus próprios olhos e de coisas que nunca soube e só saberei na eternidade contigo. Acidentes, brigas, tiros. De tudo isso o Senhor me livrou e livra.
Sua graça me livrou de mim mesmo. Muitas vezes meus planos eram errados e minhas orações pediam coisas que não seriam boas para mim. O Senhor não permitiu que esses planos se cumprissem. Fechou portas, mudou coisas, moveu o mundo, para que meus desejos errados não me levassem a um caminho mal.
Eu reclamei um bocado de algumas coisas, mas o Senhor sustentou tudo, tudo, de forma maravilhosa! Seu plano nunca falhou e se cumpriu na minha vida, mesmo quando não entendia e não entendo.
Mais importante que tudo isso, Senhor.
Apesar de merecer o inferno, a eternidade sem Tua presença, o Senhor me amou, morreu por mim e me escolheu para a Salvação. Bendito Seja o Teu Nome Senhor, porque me garantiu a eternidade junto a Ti. Coisa espetacular! Não estou mais solto no mundo, perdido em minhas angústias, mas o Senhor me comprou para Ti mesmo!
O Senhor me olha ternamente e diz: (Jo 15:9) Como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu amor.
3 – Finalmente, Senhor, Eu te amo!
Por tudo isso que o Senhor fez. Por seu perdão, sua Graça, seu amor por mim. Não poderia responder de outra forma, Senhor Jesus, do que dizendo: Eu te amo!
Mesmo sendo pecador, ainda cometendo pecados, minha alma está apegada ao Senhor. Eu olho toda a Sua criação e te louvo. Meu amor aumenta quando posso ir a uma praia e ver o pôr do Sol. Que Deus maravilhoso criou isso? Que artista perfeito fez toda essa perfeição para mim? O Meu Senhor! Ele criou todas essas coisas, para que o Nome Dele fosse engrandecido e para que nós, criados a sua imagem e semelhança, pudéssemos nos regozijar.
Senhor, Eu te amo! Meu coração se envergonha quando erro, porque eu te amo e não quero te entristecer com meu pecado. Senhor, por causa desse amor por Ti, e por quem Você é, eu quero ser perfeito, santo.
Quero poder congregar com meus irmãos e te louvar não por um compromisso social, não para ser aceito no meio deles. Quero levantar minhas mãos como reflexo de meu coração que te ama! Quero cantar às nações o quão grande o Senhor é! Sim! O Senhor é grande.
Sê exaltado na minha vida Senhor. Que meus atos possam refletir esse amor. Por favor, me ajude a me arrepender todas as vezes que errar, mesmo que sejam muitas. Me ajude a sempre, sempre, ter um coração grato por tudo, na alegria ou na tristeza.
Senhor, eu te amo. E não descansarei até aquele dia, quando o Senhor me dará um novo corpo, livre do pecado que me assedia, e poderei ser perfeito na Sua presença. Ah, que dia mais ansiado. Sim, que meu único anseio seja a chegada desse dia!
Que meu amor por ti seja forte o suficiente para viver uma vida de plenitude em Tua presença. E que essa plenitude seja baseada somente em Ti, e não nas coisas vãs que o mundo oferece.
Eu te amo Senhor, te amo!
Despedida
Jesus me olha profundamente. Que olhar era aquele? Eu me quedo, ajoelhado diante Dele, que me levanta e me abraça.
Quanto tempo dura esse abraço em minha imaginação, não sei. Mas é a melhor coisa que sou capaz de imaginar.
Minha história é mais ou menos assim.
No texto
Eu não acho coincidência que esse texto esteja inserido na passagem de apocalipse. Só uma vida de arrependimento, gratidão e amor profundo ao nosso Senhor pode nos livrar de sermos mornos, de estarmos salvos na igreja para sermos apenas passageiros na história. De virmos domingo após domingo apenas para um evento social.
Só essas coisas nos levarão a uma vida de santidade, que não negocia nada que vá desagradar ao Senhor, objeto de nosso mais profundo amor!
Só essas coisas nos mostrarão que a riqueza não está nas posses, mas no ouro que apenas o Senhor tem para nós: a Sua presença. Arrependimento, ação de graças e amor ao Senhor nos permitirão ter vestes brancas e vivermos uma vida de santidade. Mesmo que caiamos, isso nos trará de volta rapidamente ao Senhor. Nossos olhos, limpos pelo colírio dEle, poderão ver as coisas da maneira correta, que é a maneira de Sua Palavra e não a nossa.
Ele disciplina a quem ama, como diz o texto. Aonde o Senhor tem te disciplinado? Fique firme! Leve as coisas do Senhor a sério, e viva uma vida de arrependimento, de gratidão e de amor a Ele.
O mais interessante dessa passagem é que o Senhor bate à nossa porta todos os dias. Não é preciso esperar mais. Se você ainda não o recebeu como Senhor e Salvador, faça isso hoje, agora! Não deixe para amanhã. Se você já O tem como Senhor de sua vida, viva essa vida plena em Sua presença.
Arrependimento, gratidão e amor a Ele, são possíveis hoje, na história de cada um de nós. Não precisa ser apenas fruto da minha imaginação.
Ele está à porta hoje.
7 comentários:
Zé Eduardo,
Permita-me usar partes do seu texto e relatar uma realidade diária:
“Ele está à porta hoje e chama o meu nome.
Me levanto e vejo o Senhor parado na entrada, sorrindo para mim, perguntando-me se podemos comer juntos.
Ele traz o pão, bem como uma garrafa do melhor vinho.
Nos sentamos à mesa.
O Senhor me olha ternamente e me diz três coisas:
- Perdoados estão os seus pecados;
- Como o Pai me amou, assim também eu o amei;
- Permanecei no meu amor”.
Eu apenas choro.
Você que está nesta página e entrou nesta cena maravilhosa, quero lhe dizer que “o Senhor bate à nossa porta todos os dias.
Arrependimento, gratidão e amor a Ele, são possíveis hoje, na história de cada um de nós".
Não apenas chore.
Ajoelhe-se diante dEle.
Ele o levantará e o abraçará.
Zé Eduardo, meu querido irmão.
Que texto criativo, verdadeiro e cheio de emoção!
Deus o abençoe a cada dia e o inspire sempre mais.
Abrs,
Lecir
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.”Ap 3:20
Valeu Lecir!
Obrigado pelo seu apoio e incentivo.
Ontem à noite lembrei-me deste cantinho. Foi falado da importância de estarmos juntos para ceiarmos. Vc estava lá?
Uma semana cheia de inspirações do alto para você.
Abrs,
Lecir
PS: Tem mensagem nova no Compartilhando, fala sobre o tempo.
Oi Lecir
Estava lá sim. Também lembrei do texto quando Josué falou sobre a ceia.
Obrigada pela visita e também por comentar.
Fica na paz!
Abrs
Zé Eduardo,
Que boa essa sua veia literária.
Escrever o que sente e não ter vergonha de expor o coração são virtudes que devem ser exaltadas.
E é melhor quando isso é feito com base bíblica e sensibilidade.
Parabéns meu amigo.
Vá em frente.
Brinde-nos com mais.
Quem sabe um dia não me atrevo também?
Abraços, do Marcelo.
Marcelo
Obrigado pelas palavras...
Minha opinião? Atreva-se também!!!
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