quinta-feira, 26 de maio de 2011

Perguntas complicadas...

Meu irmão do Igreja Missional me pediu algumas perguntas para, quem sabe, serem feitas a alguns líderes.

Em vez de responder ao email dele, resolvi colocar aqui para compartilhar.

Pedido em relação a todas as questões:  Dê uma resposta prática, que diga: "Faça isso", "Não faça isso". Não uma resposta genérica, de quem não quer pensar no assunto ou não quer dar o "pulo do gato".

1 - Como equilibrar a dimensão horizontal e vertical da igreja? Inspirado no último post do blog Igreja Missional.

2 - Como administrar a constante luta por mais tempo de qualidade com Deus, família, amigos, em um tempo onde moramos cada vez mais longe dos locais de nossas atividades profissionais?

3 - Aliás, você sabe realmente o que é a dificuldade apontada na pergunta 2? Ou seja, você vive essa dificuldade no dia a dia? Provavelmente não, uma vez que pastores "moram" perto de suas igrejas, na maior parte dos casos. Assim, melhoro a pergunta: você já viveu isso no seu dia a dia, antes de se tornar pastor? Se sim, como equilibrou isso?

4 - Como equilibrar as diferenças de "classes" dentro de uma igreja? Ou seja, como ter debaixo do mesmo teto, no mesmo momento de culto, pessoas de classe média, alta, baixa? Isso é possível?

5 - Como criar um "modus operandi" que proteja os pastores deles mesmos? Ou seja, como salvar os pastores de se tornarem os donos da verdade e do poder dentro de uma igreja? Mais: Como protegê-los de se isolarem em seus mundos, sem ter com quem compartilhar a vida, os pecados, as lutas, os fracassos? Porque a comunidade quer super heróis e muitos pastores entram nessa loucura e tentam ser como tais.

6 - Como ter igrejas onde a força esteja na comunidade e não no carisma de sua liderança? O que os pastores devem fazer para se tornar "desnecessários", ou seja, realmente estabelecer um ministério que busque apresentar todo homem perfeito para Deus, e, ao chegar o mais próximo disso, se tornar dispensável para aquela comunidade, abrindo espaço para fazer o mesmo trabalho em outro lugar?

7 - É possível pregar um evangelho genuíno em uma igreja, sendo alguém que depende financeiramente dessa igreja? Ou seja, pregar algo que vá frontalmente contra a prática do povo daquele lugar, sem receio de ser "dispensado" de suas atividades. Por exemplo, pregar em igrejas de classe média alta que ter um automóvel de R$ 100.000 não condiz com um país onde há irmãos em Cristo sem necessidades básicas - alimentação, saneamento básico, moradia salutar e educação decente?

Apenas algumas perguntas para começar.

Depois eu vou perguntar ao meu amigo Roberto, do Igreja Missional, se ele vai ter coragem de perguntar todas.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A igreja e a relevância no mundo - a capacitação para sermos relevantes

Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.
(Atos 2:46-47)

Esse verso me impressiona.

Perseverança, unanimidade e comunhão, com alegria e simplicidade.

Coisas que não encontramos mais por aí em nossa sociedade. E, infelizmente, nem na Igreja.

Quando pensamos, então, em contar com a simpatia do povo... Ô sensação esquisita.

No post anterior eu pensei um pouco sobre qual deveria ser a nossa posição, como discípulos de Jesus, em relação à desigualdade social que vivemos.

Finalizei aquele post dizendo que em outro momento pensaria um pouco sobre "como" praticar uma vida cristã frente a isso, e gostaria de iniciar agora.

Eu tenho comigo que as duas coisas estão completamente relacionadas: simpatia do povo e cristianismo vivido no dia a dia.

O que parece saltar aos olhos, no versículo que abra esse texto, é o fato de que a praticidade da fé, o viver cristão no cotidiano,  nas tarefas e lutas do dia a dia, levou o povo a nutrir simpatia pela Igreja nascente.

Aqueles malucos eram diferentes. Vendiam o que tinham para colocar tudo em comum, de forma a viverem uma comunidade que condizia com o termo: "comum ". Ainda, pararam de fazer o que todos na época faziam: mentir, roubar, adulterar. E, mesmo sob a perseguição dos judeus - no início da Igreja, os únicos que a perseguiam - continuavam se reunindo, e no templo! Corajosos, no mínimo.

Os de fora não sabiam, mas eles só podiam fazer isso porque foram capacitados com alguém que vinha de fora deles, como nos mostra o início do capítulo 2 de Atos.

E aqui está, penso, a primeira coisa que podemos fazer para vivermos novamente essa relevência no mundo, e sermos instrumentos do Senhor para espalhar Sua paz e Sua justiça: Buscarmos a capacitação do Espírito Santo.

Não existe igreja relevante onde o Espírito Santo não habita. Na verdade, deixa eu melhorar: Não existe Igreja onde não há a presença do Espírito Santo.

O pastor Antonio Carlos Costa (http://twitter.com/antonioccosta_) foi muito feliz em um tweet: "A igreja do Brasil quer que Lázaro ouça, fale, coma, beba e ande sem ter ouvido a voz onipotente dizer-lhe: 'Vem para fora'.". Alguns de nós, eu inclusive, têm falado muito sobre a necessidade da Igreja resgatar sua relevância no mundo. Discutimos, publicamos posts em diversos blogs e no twitter. Falamos que temos que mudar isso e aquilo, que precisamos nos voltar mais para a Palavra, nos dedicando a um tempo de comunhão com Jesus.

Creio que estamos falando demais sobre algo acontecer, sem que os pré requisitos estejam preenchidos.

Não vai ser por nosso tanto falar que a Igreja vai mudar. Vai ser pela operação soberana do Deus soberano, nos enchendo com Seu Espírito.

O que não siginifica que devemos sentar e esperar isso acontecer.

Se você foi curioso e leu o primeiro capítulo de Atos, encontrou essa pérola: "Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele. (Atos 1:14)". Não devemos ficar esperando. Devemos orar e perseverar.

Quantas reuniões de oração ainda existem nas igrejas de hoje? E, nas que perseveram em manter o encontro, qual é a frequência média? E em nossos lares? E na sua vida particular com Deus?

Creio que a resposta a essas perguntas é o início de uma boa resposta sobre a situação atual da Igreja. E deve ser, também, o início de um avivamento na minha vida e na sua, preenchendo o pré requisito para nos tornarmos relevantes novamente.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A igreja e o descanso do coração

Fiquei pensando um pouco sobre meu post de ontem.

Para uma certa parcela de nossa sociedade, o post é válido. São aqueles que conseguem tocar a vida, mesmo que na corda bamba, com alguma "facilidade". Normalmente, identificados como classe média.

Mas, pensei, e a grande parcela de nossa população? Gente que não tem a menor escolha. Para esses não é uma questão de "necessidades fabricadas pela propaganda". Não. Para esses o negócio é comida, aluguel, transporte, roupas. Aquilo que a constituição, de forma até meio cínica, diz:

"Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010)

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
(...)

IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;"

O que então, como igreja, temos a ver com isso?

Em tempos como os nossos, eu não tenho dúvida que vou parecer fora do contexto. Até um pouco sonhador, ou louco. Cá entre nós, eu vou até gostar se isso acontecer :-)

Vamos dar uma olhada no primeiro exemplo, se não me engano, de ofertas no Novo Testamento:

"Naqueles dias, desceram alguns profetas de Jerusalém para Antioquia, e, apresentando-se um deles, chamado Ágabo, dava a entender, pelo Espírito, que estava para vir grande fome por todo o mundo, a qual sobreveio nos dias de Cláudio. Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judéia; o que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbíteros por intermédio de Barnabé e de Saulo.
(Atos 11:27-30)"

Não se faz Teologia, não se extrai doutrina do livro de Atos, diz a boa regra da hermenêutica reformada.

Então, vamos dar uma olhada no seguinte texto, muito usado em algumas igrejas no momento da coleta das ofertas:

"Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem. Porque não é para que os outros tenham alívio, e vós, sobrecarga; mas para que haja igualdade, suprindo a vossa abundância, no presente, a falta daqueles, de modo que a abundância daqueles venha a suprir a vossa falta, e, assim, haja igualdade, como está escrito: O que muito colheu não teve demais; e o que pouco, não teve falta.
(2Co 8:12-15)"

Eu vou ser o mais direto que eu posso: Em um país como o nosso - sendo mais honesto, em um mundo como o nosso - onde uma quantidade enorme de irmãos não tem o suficiente para comer, como podemos conviver com a fartura em nossas casas?

Sim, porque onde falta até saneamento básico - sendo direto de novo: o cocô corre a céu aberto - ter um banheiro em casa é fartura. Imagina dois, três. Onde falta uma refeição completa por dia, poder comer três refeições, mesmo que arroz com feijão, é fartura. Imagina então, jantar toda a semana em bons restaurantes.

Eu e você fomos criados em uma sociedade que está longe, muito longe, de ser cristã na forma ensinada no Novo Testamento. Na verdade, se formos dar uma olhada no Antigo Testamento, veremos que somos ensinados sobre o cuidar do próximo por toda bíblia:

"Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao SENHOR? Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e, se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante? Então, romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem detença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do SENHOR será a tua retaguarda; então, clamarás, e o SENHOR te responderá; gritarás por socorro, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o dedo que ameaça, o falar injurioso; se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia.
(Isa 58:5-10)"

"Aborreço, desprezo as vossas festas e com as vossas assembléias solenes não tenho nenhum prazer. E, ainda que me ofereçais holocaustos e vossas ofertas de manjares, não me agradarei deles, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais cevados. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias das tuas liras. Antes, corra o juízo como as águas; e a justiça, como ribeiro perene.
(Amós 5:21-24)"

É isso o que aprendemos? Não! Aprendemos, desde pequenos, a sermos os melhores, a buscarmos o melhor, a estarmos nos primeiros lugares. Porque a competição é ferrenha. O meu companheiro de faculdade, assim como meu amigo de bola de gude, vai se tornar meu concorrente no mercado de trabalho.

Nesse mundo, não há espaço para medíocres - medianos. Eu fico me perguntando quando ouço isso, e dentro de igrejas, se as pessoas sabem fazer contas. Não existe possibilidade de não existir médias. Quando nos dizem que não podemos ser medíocres, estão dizendo que todos seremos "cabeça e não cauda", que todos seremos "os melhores". Mas, nesse mundo, qual é a média - ser mediano?

Bem, voltando ao ponto. Em um país de desigualdade de condições como o nosso, igrejas "ricas" não deveriam existir. Se eu for bíblico de verdade, minha alma não pode descansar enquanto eu souber que existe algum irmão em Cristo, esteja ele onde estiver, vivendo em condições de miséria.

O pior é que, na maioria das vezes, não haveria necessidade de pensarmos nos "irmãos do nordeste". Basta olhar na janela de nossas igrejas, e vamos ver a cara da miséria, seus dentes rindo para cada um de nós, na forma dos barracos nos nossos morros. Ou dos barracos debaixo de nossos viadutos.

Assim, como podemos ser igreja cristã e convivermos com isso sem o menor problema? Como podemos andar em nossos carros com ar condicionado enquanto nossos irmãos se espremem nas conduções coletivas?

Estou dizendo que não podemos vencer na vida? Que não podemos dar uma educação da melhor qualidade para nossos filhos? Que não podemos curtir nossas férias? Que não devemos tentar sempre fazer o melhor?

Não. De forma nenhuma.

Devemos fazer tudo isso, mas com a motivação certa. 

Estou dizendo que, dadas as nossas condições como nação, temos que diminuir um pouco nosso nível, se necessário, para que nossos irmãos na fé possam ter o mínimo. De novo, Paulo aos coríntios: "não é para que os outros tenham alívio, e vós, sobrecarga; mas para que haja igualdade".

Também não estou afirmando que a tarefa é simples, que dá para vivermos isso da noite para o dia. Tem muita gente (é isso só dá em "gente") que é encostada mesmo, que não quer nada. Mas tem gente que não teve as chances que eu e você - que pode me ler em um computador com acesso a Internet - tivemos. O que eu creio, e fortemente, é que essa é A tarefa da nossa geração. Pensar sobre isso. Pensar de novo. De novo. E agir, agir, agir!

Assim, até os mais pequeninos entre nós poderiam experimentar um Shabath como o que escrevi, por alto, ontem.

Como então poderíamos agir?

Isso é assunto para começarmos a pensar em um próximo encontro/post.

terça-feira, 17 de maio de 2011

O tempo que passa, a vida que corre, e o coração que deve descansar.


Eu acordo pra trabalhar. Eu vivo pra trabalhar. Marcos e Paulo Sérgio Valle

Creio não ser necessário uma pesquisa muito apurada para afirmar que estamos em tempos muito, muito corridos. Muito trabalho, muita atividade, muita informação. Muito tudo. 

Quer dizer, quase tudo. 

Nos falta descanso.

Não apenas um descanso físico. Sem dúvida, esse é um descanso completamente necessário. Mas precisamos, acima de tudo, de um descanso do coração, que vem batendo acelerado durante muito tempo.

Nossa urbanização concentrada, por exemplo, cria um tipo de vida que não ajuda ao descanso. Moramos cada vez mais longe dos nossos postos de trabalho. Custo de vida alto, especulação imobiliária, concentração das empresas em alguns lugares estratégicos, são alguns dos fatores dessa concentração. 

Além disso, nosso sistema de transporte e trânsito, nas grandes cidades principalmente, está falido, ou prestes a falir. A facilidade de crédito tem permitido que mais pessoas tenham acesso a um automóvel. Isso é bom, sem dúvida. Melhor qualidade de vida, melhor auto estima, uma vez que o automóvel ainda é visto como “status”. Por outro lado, as nossas cidades não conseguem se adaptar em tempo hábil. Por falta de recursos, alguns dizem. Por falta de administração competente, dizem outros. O que importa é que as ruas não crescem na mesma medida que a produção e consumo de automóveis.

O sistema de transporte coletivo...Bem, se você já precisou usar um ônibus nos horários de rush, não vai precisar de nenhuma descrição minha para entender o problema. Mas eu posso resumir: Uma falta de respeito pelo trabalhador, pelo ser humano, que movimenta a máquina econômica desse país.

Juntando tudo isso – urbanização concentrada, transporte público e trânsito caótico – o que temos é uma vida no automático e sem tempo. Como diria Herbert Vianna: “Eu acordo pra trabalhar, eu vivo pra trabalhar”. Se não me engano, os estudos de Marx já falavam em uma alienação do trabalhador. Não sei se é nesse sentido Marxista – algo em que definitivamente eu não sou especialista – mas estamos cada vez mais alienados. De nossas famílias, de nossas comunidades – se é que ainda nos sentimos participantes de uma comunidade – de nós mesmos. E de Deus.

Nesse processo, a automatização das vidas, como não podia deixar de ser, gera autômatos, robôs.

Hoje, quando olhei ao redor, e para dentro de mim, eu senti um cansaço azedo, com cheiro de peixe estragado e de cor negra. Analisei, rapidamente é claro, meu dia a dia e fiquei com uma sensação de burrice enorme.

Sim, burrice.

Porque só pode ser burro quem corre atrás de tudo e não tem tempo para a família. Só pode ser burra alguém que vê a filha crescer a 1000 por hora e não acorda para isso. Só pode ser burro quem se dedica tanto ao trabalho que não tem tempo para conversar com a esposa no fim do dia, e contar suas histórias, dar risadas, sem pressa para o dia seguinte.

E só pode ser completamente burro alguém que não separa um bom tempo para conversar com Aquele que se disse Deus e que morreu pela humanidade. Não apenas isso: ressuscitou! Como muitos já disseram, ou Jesus é um mentiroso completo, ou é Deus. Não tenho dúvida de que a história mostra que Ele não mentiu.

Não vai ser fácil – mudanças verdadeiras nunca são – mas precisamos dar um basta na urgência falsa desse dia a dia louco. Pode ser que custe alguma coisa no nosso salário, na nossa posição. Pode ser que custe até mais. Me parece, entretanto, é que estamos vivendo em um ciclo auto alimentado. Ou melhor: alimentado por uma indústria de propaganda que usa todas as armas para criar em nós algumas "necessidades" que nunca deveriam ser classificadas como "necessárias". Realmente precisamos de tanto assim?

O que me perguntei hoje, nessa breve análise é: O que é mais importante? O que é realmente importante para mim?

O que é realmente importante para você?

sábado, 14 de maio de 2011

Aceitando os cabelos brancos

O tempo da faculdade é um dos tempos mais interessantes de nossas vidas. Uma mudança de realidade. A sensação que tinha - e lá se vão quase 20 anos - era de um frescor tão grande. E, ao mesmo tempo, a certeza de que nada seria como antes, que agora as coisas eram comigo, e não mais com meus pais.

Mais legal ainda, é poder, nesses tempos de internet e redes sociais, manter contato, mesmo que virtual, com uma boa parte dos amigos dessa época. 

Eu participo de um grupo desses. Vários dos colegas de turma da ciência da computação do segundo semestre de 1990 da UFF participam comigo de uma lista de discussões, onde podemos saber como vai a vida, de quem está perto e de quem está longe.

Essa semana a lista se movimentou. Alguém enviou para o grupo algumas fotos daqueles dias iniciais e foi uma nostalgia impressionante. Confessei, no grupo, que "me ver" 20 anos depois foi tão especial que cheguei a sonhar com aquele tempo.

Um dos trend topics de hoje, 14/05/2011, no twitter, é sobre um programa no SBT falando dos trinta anos de emissora. É interessante perceber essa mesma nostalgia nos comentários das pessoas: "Aquele desenho",   "Aquela música".

Eu não sei se o que ocorre é que olhamos para trás e lembramos dos nossos sonhos, nossos ideais e  percebemos que alguns sonhos se realizaram, outros não. Que alguns ideais não continuaram fortes em nós como a gente gostaria.

Pode ser, quem sabe, que o problema não é quem nós éramos, mas quem nós nos tornamos. As responsabilidades e as relações profissionais nesse mundo competitivo, formaram homens e mulheres que perderam um tanto daquele vigor e paixão juvenil, onde o outro era apenas meu colega e não um potencial concorrente.

Algumas coisas realmente não faziam sentido, a não ser para aquele garoto com 20 kg a menos, e ficaram por lá.

Mas outras não. Poderiam muito bem estar presentes agora, porque faziam muito bem a alma. Nada deveria ter tirado isso de nós. A paixão pelo novo. A confiança no outro. A amizade que surgia fácil, sem barreiras. A gente não devia ter deixado isso nos primeiros períodos da faculdade. Nos tornamos mais sábios e menos tolos, mas não quer dizer que deveríamos nos tornar cínicos!

Ainda podemos pegar o violão e cantar aquelas canções que nos eram tão queridas.

Só precisamos aceitar os cabelos brancos. Sem problemas. Estão brancos. Mas isso não quer dizer que a alma não possa ser jovem.

Depende de cada um de nós.

Mas é possível.