terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A morte: o olhar e o choro de Jesus

Why do flowers die? - Century

Normalmente, escrever, para quem gosta, é divertido. É um momento em que nos tornamos criadores, dirigindo um “enredo” para onde queremos.

Na maior parte do tempo, eu me sinto assim.

Entretanto, em alguns momentos nos sentimos direcionados a escrever sobre coisas que não são simples. Escrever sobre o que é simples é mais fácil. Apenas expomos os pensamentos, deixamos a sensibilidade aflorar, e “vamo que vamo”. Mas quando o assunto é mais complexo, a gente se assusta um pouco. Eu, pelo menos, me assusto.

Outro dia postei um pequeno texto sobre os problemas do tráfico no Rio de Janeiro. Não é um assunto simples, mas não se apresenta como algo complicado para apenas opinarmos. Foi o que fiz. Deu até um friozinho na barriga porque pensei que poderiam me interpretar mal e dizer que eu estava exagerando. Isso não ocorreu. Apenas um anônimo falando que era lógica sofista. Nada muito sério.

Mas hoje eu quero escrever sobre algo que me parece ser mais complicado.

A morte da menina de 12 anos, que recebeu vaselina líquida na veia, em vez de soro fisiológico.

(atualização em 27/09/2012 - Aconteceu de novo. Uma menina de 14 anos morreu, em minha cidade, após uma cirurgia que parecia simples. Não há nada comprovado sobre erro médico, mas me parece bem próximo disso. Até quando Senhor?!)

Fazer teologia, ou coisa parecida, sobre o ocorrido parece ser coisa para maluco. Algo para quem não entendeu a dor da família, o desespero de ver sua filha ir embora no começo da vida. Nesse momento, podemos pensar, temos apenas que chorar e ficar do lado, ouvindo o que não é dito, sentindo o que não é possível sentir, a não ser para quem está no meio do furacão.


Eu penso assim também.


Mas não consigo ver como pode ser possível sobreviver a um evento como esses sem colocar Deus na equação. E colocar Deus na equação é fazer teologia. 


Não colocar Deus na equação é, quem sabe, ateísmo. É se contentar com o que está aqui e agora, apenas com o que se vê, e entender que no fim está o fim, e ponto final. Para mim, com a licença dos que pensam ao contrário, o resultado desse pensamento é o desespero. E pior: desespero para quem já está desesperado com a perda. 


Deixo claro desde já que não sei como passaria por algo como essa família está passando. Uma coisa é ficar emocionado, se aliar aos famíliares nesse momento, e trazer palavras de incentivo. Outra, bem diferente, é viver no meio de tudo. Assim, certamente irei escrever coisas que muito provavelmente não alcançarão a dor dos que perderam um menina de 12 anos, da mesma forma que não me alcançaria se lá estivesse.


Mas escrevo para não esquecer quem sou e porque sou. Escrevo para lembrar a mim mesmo que não estou sozinho no meio do nada, tendo que lutar com forças que me superam em larga escala. Escrevo para renovar minha mente mais um pouco. Escrevo, para pelo menos tentar.

O olhar de Deus e o nosso.

O evangelho de João traz um evento muito interessante nesse sentido. É o caso da morte de Lázaro. Se você se lembra, Jesus ao saber que Lázaro estava doente diz aos seus amigos que aquela doença era para a glória de Deus. Além disso, se demora mais 2 dias onde estava, atrasando seu retorno à cidade de Betânia.

Lázaro morre. Ao chegar no lugar, Jesus é recebido por Marta, irmã do morto, que lhe diz: “Senhor, se estiveras aqui, não teria morrido meu irmão.(Jo 11:21)

Percebe a diferença na forma de ver as coisas? Jesus olhou a morte de uma perspectiva diferente de Marta.

Para nós, temporais, a morte é essa dor que não acaba. É esse mistério que não permite ver o que está do outro lado.

Para Jesus, a morte é só o início. É quando se completa o ciclo de preparação. A morte inaugura um novo tempo, na verdade a eternidade. E eternidade com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Jesus esteve nesse “outro lado” e de lá voltou, inaugurando um nova era para aqueles que o recebem como Senhor e Salvador.

Se continuarmos a olhar para a morte da nossa maneira, nada fará sentido. E toda a dor do mundo será uma dor maior, porque além de não passar, não tem sentido. “Comamos e bebamos, que amanhã morreremos” será nosso lema.

Por outro lado, se olhamos para a morte como Jesus olha, há um novo sentido, um novo sopro para nos manter mesmo no meio de tragédias como essa.

Mesmo assim, Ele chorou.

O mesmo texto, mais à frente, apresenta algo muito especial. Quando a outra irmã de Lázaro o vê, vem ao seu encontro e lhe diz as mesma palavras que Marta: “Senhor, se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido. (Jo 11:32)"

Nesse momento, ao ver toda a dor que morte causou àquela família e seus amigos, Jesus, Deus, que tem todo o conhecimento de todas as coisas, que nos formou do pó, que sustenta toda a criação, chora.: “Jesus chorou. (Jo 11:35)”

Eu não sei o que você pensa sobre esse texto. Mas eu fico emocionado e empolgado ao mesmo tempo, ao ver que Deus se fez homem, e habitou entre nós! E isso foi algo tão estrondoso que Deus, mesmo com todo o seu poder, chora ao ver a dor dos filhos de Eva, sofrendo com o resultado de seu pecado.

Para mim, Jesus chora ao ver a morte dessa menina. Mesmo sendo Deus, e tendo tudo sob seu controle, sua humanidade – sim, Jesus ressuscitou e subiu aos céus como homem! - o leva a chorar com nosso luto. Mesmo sabendo que a morte deve ser encarada não pela perspectiva temporal, mas pela eterna, Jesus chora conosco!

Posso quase ver Jesus no sepultamento da menina, ao lado de seus pais, chorando com eles a dor da separação provisória.

Sim, provisória.

Nossa visão da morte não pode perder de vista que há algo a mais. O Senhor nos espera logo ali, após nossa partida. E nos dará um novo corpo, um novo entendimento do universo como ele é, e não como nós pensamos que ele é.

Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. (2Co 4:17-18)

Precismos ser lembrados o tempo todo sobre isso. Deus está no controle e nada foge a esse controle. Mesmo eventos tão “irracionais” e loucos como esse. Mas ao mesmo tempo Ele chora junto conosco.

Isso não tira nossa dor. Mas ajuda a conviver com ela. Não muda o que já ocorreu. Mas prepara nossos corações para algo muito melhor e maior, que já está ocorrendo e que vai se completar daqui a pouco.

À família, espero que vocês possam entender minhas palavras. Meus sinceros pêsames por tudo. Não serei leviano de dizer que entendo sua dor. Não sei nada sobre o que vocês estão vivendo. Mas mesmo assim, choro com vocês.

E oro para que o Senhor de toda consolação possa fazer com que esse tempo passe rápido.